Monday, November 22, 2010

Por que ‘A Rede Social’ menospreza Zuckerberg?

Por Pedro Doria




O filme A Rede Social, baseado na história de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, estreia no Brasil no dia 3 de dezembro. Tem tudo para causar um burburinho e deve ajudar a popularizar mais o Facebook por aqui. Mas periga também macular de forma um quê injusta a imagem de Zuckerberg.
A Rede Social é baseado no livro Bilionário Por Acaso, do jornalista Ben Mezrich. Lá, a história de Zuckerberg é contada pelos olhos de um de seus principais detratores, o brasileiro Eduardo Saverin. Colega de Zuckerberg na Universidade Harvard, Saverin foi um dos primeiros investidores do Facebook e sócio inicial do projeto quando ele ainda era um site universitário.
Em meados de 2004, Zuckerberg se mudou para o Vale do Silício, onde pretendia fazer sua pequena empresa crescer. Saverin preferiu não acompanhá-lo, continuou trabalhando de longe nos intervalos entre as aulas e os estágios. Não punha fé. Quando o site virou bilionário, deu briga e a disputa entre os dois terminou na Justiça.
Ele não é o único a questionar Zuckerberg nos tribunais. Cameron Winklevoss, Tyler Winklevoss e Divya Narendra alegam que o criador do Facebook roubou-lhes a ideia do site quando todos ainda estudavam em Harvard. O livro de Mezrich ainda defende a ideia de que o jovem fundador só pôs sua criatura no ar porque, geek tímido que era, queria conhecer garotas.
Entre a picuinha das brigas societárias por uma empresa que deu (muito) certo e a descrição de Zuckerberg como mau-caráter, livro e filme apequenam um dos mais brilhantes criadores da internet sem mostrar o que vale ser realmente mostrado: suas grandes qualidades e seu principal defeito.
Quando o Facebook nasceu, eram muitas as redes sociais que disputavam espaço. Friendster, Orkut – com o Google por trás – e MySpace pareciam ter mais chances de dar certo. Vieram antes e tinham mais dinheiro as financiando. Foi o Facebook, pacientemente cultivado por Zuckerberg, que venceu.
Primeiro porque ele soube fazê-lo crescer. Não nasceu aberto, nasceu dedicado apenas a alunos de Harvard. Então, de campus em campus, foi abrindo em várias outras universidades dos EUA. Foi crescimento calculado. Os jovens engenheiros esperavam ter gente o suficiente de cada escola pedindo pelo site para então lançá-lo ali. A estratégia garantia que, ao surgir em um campus, imediatamente fosse ocupado por quase todos os alunos. Além de garantir que sempre haveria servidores o suficiente para atender a todos os usuários. Facebook nasceu sendo desejado e sem problemas técnicos, diferentemente de todas as outras redes, porque Zuckerberg intuiu uma estratégia genial.
Depois, Facebook soube se valorizar. Enquanto a norma no Vale é conseguir algum capital de investimento em troca de muitos por cento da empresa quando ela ainda é um embrião, Zuckerberg esperou. Apertou os cintos e aguentou o ritmo até seu site se transformar na companhia mais desejada do Vale do Silício. Só aí se dispôs a receber investimento de peso. O resultado foi uma avaliação da empresa na alta em troca de um percentual menor em condições que lhe garantiam poder total sobre as decisões futuras do Facebook.
O tutor que Zuckerberg escolheu para si é também surpreendente. Nenhum dos gênios da tecnologia e sim Donald Graham, presidente do Washington Post, tradicional jornal norte-americano. Graham e, mais tarde, Michael Wolf, da Time Warner, o ensinaram a negociar e a pensar como empresa de mídia.
Zuckerberg tinha uma visão clara. E fez de sua rede social uma plataforma em cima da qual outros poderiam produzir softwares. O resultado é que tem total controle sobre sua empresa, é o único responsável por seus erros e acertos e tem 500 milhões de usuários.
É tanta a clareza que, convencido de que, no futuro, ninguém ligará muito para privacidade, em vários momentos impõe maior abertura das informações no site e se vê frente a uma imensa resistência dos usuários. Pode-se rejeitar sua visão, mas ela tem dado certo. Mark Zuckerberg é um dos raros criadores do Vale que produz resultados tão evidentes. Sugerir que era só para paquerar é tornar pequena a obra de uma das grandes mentes criativas da rede.

Fonte: Estadão

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