Sunday, November 21, 2010

A trajetória de José Carlos Semenzato, da Microlins

Exemplo de perseverança, o fundador da Microlins construiu um colosso do ensino profissionalizante depois de quase quebrar

Por Sérgio Tauhata
FABIANO ACCORSI
"Pensar pequeno atrapalha o sucesso"
JOSÉ CARLOS SEMENZATO

A vida de José Carlos Semenzato parece enredo de filme com direito a história de superação, lances ousados e lições de empreendedorismo. Aos 41 anos, o empresário comanda o grupo Microlins, uma das dez maiores franquias do país. As 730 unidades espalhadas por 26 estados e pelo Distrito Federal vão faturar juntas R$ 304 milhões em 2009, com crescimento de 15% sobre o ano anterior. Nos 18 anos que levou para consolidar seu império de cursos profissionalizantes, Semenzato saiu da quase falência ao sucesso total com um faro singular para oportunidades.

Filho de um mestre de obras e uma dona de casa, o garoto nascido em Cafelândia, interior de São Paulo, começou a trabalhar cedo. Aos 13 anos, passou a vender salgadinhos feitos por sua mãe, dona Alzira. E já demonstrava o tino comercial do futuro empresário: o dinheiro das coxinhas possibilitou a ela comprar um fusca 1978 usado.

“Pensar pequeno atrapalha o sucesso”, costuma repetir. Em 1991, aos 23 anos, essa convicção chacoalhou seu mundo. O então programador de computadores de uma construtora na cidade de Lins, em São Paulo, decidiu seguir seu instinto empreendedor. E imaginou de cara um grande negócio: uma rede de ensino de informática. Saiu do emprego e usou as economias na abertura da primeira unidade da Microlins. Em dois meses tinha 200 alunos e, em três anos, 17 escolas próprias.

MICROLINS
Fundação >>> 1991
Sede >>> São José do Rio Preto, SP
O que faz >>> Rede de franquias de ensino profissionalizante com mais de 40 cursos
Funcionários >>> 117
Faturamento 2009 (projetado) >>> R$ 304 milhões (rede) e R$ 45 milhões (matriz)

A primeira provação, no entanto, não tardou a surgir. Era o ano de 1994. A chegada do Plano Real e a política de juros altos tornaram as prestações de leasing de mil computadores uma bomba financeira. Sem poder pagar, quase fechou. “Perdi o nome, a conta, o crédito, mas não o sonho”, afirma. Um dos momentos mais difíceis foi quando a Justiça apreendeu bens pessoais e um baú de brinquedos de seus filhos.

A grande virada se deu com as franquias. Para Semenzato, o negócio era viável, desde que houvesse investidores dispostos a assumir as escolas. Repassou então os 17 pontos a interessados que lhe pagavam apenas royalties. Deu tão certo que em dois anos a rede chegou a 150 unidades. Pioneiro entre os franqueados, o casal Wilson José de Oliveira, 50 anos, e Ana Claudia Bilar Ney de Oliveira, 40 anos, faz parte do grupo desde 1995. “Temos uma das mais rentáveis unidades da marca, em São José do Rio Preto, com faturamento de R$ 1,8 milhão por ano”, diz Wilson.

A companhia protagonizou uma jogada ousada em 1996. Ao perceber sinais de saturação no ensino de informática, Semenzato decidiu mudar de modo radical o perfil do negócio. A marca deixava de ser apenas uma escola de computação para oferecer cursos profissionalizantes a jovens de baixa renda. Em 1999, a Microlins mudou-se para a atual sede em São José do Rio Preto, como parte da estratégia de crescimento. Em 2000, mais uma sacada. A Microlins passou a distribuir cursos e máquinas no programa de TV do cantor Netinho. No período, o crescimento médio foi de 100 unidades por ano. “Em 30 dias triplicamos o caixa da empresa”, conta.

O capítulo mais recente da saga da Microlins, contudo, ocorreu em julho de 2008. Após dois anos de namoro, Semenzato fechou a venda de 30% das ações para o grupo educacional Anhanguera, controlado pelo Fundo de Educação para o Brasil, da Pátria Investimentos. A operação rendeu um aporte de R$ 25 milhões. Para 2010, a meta de crescimento é de 5% no faturamento e de 17% em número de franquias. “Somos uma empresa que realiza sonhos. Cada uma das 500 mil pessoas que passa por ano pelas nossas salas tem as mesmas chances que eu tive.”

CONSELHO
Ponto de partida

1 >>>
 Faça uma análise detalhada de todos os aspectos do negócio: riscos, tamanho do mercado, perfil do cliente e até a sua futura alavancagem operacional
2 >>> Veja soluções onde os demais enxergam problemas. Quem foca nas dificuldades torna-se prisioneiro delas
3 >>> Ouça a intuição. Muitas vezes o caminho do sucesso começa em acreditar naquilo que os demais não conseguem
4 >>> Não desista nunca. Um empreendedor tem resiliência, ou seja, é capaz de retomar o rumo, mesmo após um momento difícil
5 >>> Tenha coragem de ousar. É importante dar os passos certos nas horas certas. Mas, se para crescer o negócio exige mudança radical, não hesite

GESTÃO
Alicerces do negócio

1 >>>
 Construimos uma marca forte: a visibilidade positiva é resultado direto do trabalho da empresa em qualidade, inovação e agilidade
2 >>> Somos agressivos nas vendas: nossos representantes sabem que vendemos sonhos profissionais e não apenas cursos
3 >>> Cumprimos as promessas: sejam feitas a funcionários, sócios, investidores ou alunos. É preciso honrar compromissos, mesmo que isso leve a prejuízos
4 >>> Focamos na estratégia: uma vez definido um planejamento, vamos até o fim
5 >>> Valorizamos a equipe: um negócio sustentável passa por um time comprometido com os valores e objetivos da empresa. Na Microlins todos os diretores começaram como estagiários ou professores

Parte 02:

A hora da classe D

Microlins lança nova franquia de cursos ainda mais baratos em 2010

Por Sérgio Tauhata
Foto: Omar Paixão
José Carlos Semenzato, dono da Microlins, rede de ensino profissionalizante para a classe C, mira agora na classe D
Especialista em ensino profissionalizante para a classe C, o presidente da rede de franquias Microlins, José Carlos Semenzato, 41 anos, sabe tudo sobre como vender para esse consumidor de força econômica cada vez maior. Em 2010, mira suas baterias para um mercado emergente, o público D. O grupo lança no próximo ano uma nova rede, a Ideal, que vai oferecer cursos por valores até 50% menores comparados aos da marca principal. “Conforme a situação econômica melhora, as pessoas começam a querer produtos antes inacessíveis”, afirma o empresário.
A meta da Microlins é fechar 2010 com 100 franquias da Ideal. Os cursos de áreas como informática, vendas e atendimento serão interativos, ou seja, ministrados por meio de computadores. Desse modo, os alunos poderão fazer seu próprio horário. As aulas vão ocorrer em salas com até 30 máquinas, que serão a interface entre estudantes, professores e conteúdo digital.

Além da classe D, o grupo pretende investir em cidades com menos de 80 mil habitantes. Entre as prioridades para os próximos anos, está a expansão do formato Microlinsmix, criado em 2009 para atender os município de pequeno porte. Essas escolas diferem das tradicionais por terem grade customizável e que inclui cursos de outras marcas da rede como o Instituto Embelleze, especializado em estética. A estimativa é fechar 2010 com 100 unidades mix e atingir 500 escolas até 2012. “Trabalhamos para ter, em três anos, 1,5 mil franquias de todas as nossas marcas”, revela Semenzato.

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