Tuesday, December 28, 2010

Recompensas de curto prazo são realmente sedutoras?

Estou postando um artigo excelente retirado do jornal Valor Econômico, escrito por Alexandre Rezende, sócio da Oceana Investimentos, com algumas idéias muito interessantes.


Iniciarei o artigo de hoje com uma tradução livre de um trecho da carta de 1997 escrita por Warren Buffett aos acionistas de sua holding Berkshire Hathaway. “Um breve teste: se você planeja comer hambúrgueres pelo resto de sua vida e você não é um criador de gado, você deveria torcer por preços de carne mais altos ou mais baixos? Da mesma forma, se você comprará um carro de tempos em tempos e não é um fabricante de carros, você deveria preferir preços de automóveis mais altos ou mais baixos? Essas perguntas, obviamente, se respondem sozinhas.”

E o megainvestidor continua: “Agora para a prova final: se você tem a expectativa de poupar dinheiro ao longo dos próximos cinco anos, você deveria torcer por valorizações ou desvalorizações do mercado de ações durante esse período? Muitos investidores erram a resposta desta pergunta.Apesar de saberem que comprarão ações por muitos anos, esses investidores ficam entusiasmados quando os preços das ações sobem e ficam deprimidos quando os preços caem. Ou seja, ficam felizes porque subiram os preços dos ‘hambúrgueres’ que em breve estarão comprando. Essa reação não faz sentido. Somente aqueles que serão vendedores de ações no futuro próximo deveriam ficar contentes em ver os preços das ações subindo. Compradores em potencial deveriam preferir em muito os preços caindo.”
Buffett conclui: “Portanto, sorria quando você lê a seguinte manchete de jornal ‘Investidores perdem com queda do mercado’. Tente ler essa manchete como ‘Desinvestidores perdem com queda dos mercados; no entanto, Investidores ganham’. Apesar de escritores normalmente se esquecerem desse fato, há um comprador para cada vendedor e o que prejudica um, necessariamente beneficia o outro…”
A lógica provocativa de Buffett traz uma reflexão mais profunda sobre alguns efeitos psicológicos estudados pelo campo das finanças comportamentais. Um desses efeitos, conhecido como “hyperbolic discounting”, mostra que a maioria das pessoas sente-se melhor com retornos menores obtidos em menos tempo do que com retornos muito maiores obtidos em um tempo um pouco maior. As recompensas de curto prazo parecem ser irresistivelmente sedutoras. O mesmo efeito existe no caso de perdas: perdas no curto prazo, mesmo não realizadas, parecem afetar de forma desproporcional o humor das pessoas.
Por que é tão difícil focar no longo prazo em vez de pensar em eventos mais imediatos? Por que é tão difícil comprar ações em meio a uma crise, apesar de estarem muito baratas? Por que um poupador líquido, que já possui ações, fica feliz quando essas ações sobem de preço, mesmo sabendo que irá comprar mais dessas mesmas ações no futuro?
Aparentemente isso ocorre pela forma como estamos geneticamente programados. Esse efeito é resultado de milhares de anos de seleção natural, com favorecimentos àquelas pessoas que respondiam mais enfaticamente a perigos e recompensas imediatas. Aqueles que não respondiam a fatores de curto prazo – digamos, correr do tigre ou comer o alimento imediatamente – eram excluídos de nosso banco de dados genético. Na verdade, quanto mais distante uma recompensa ou perigo estava, menor a necessidade de resposta a esse evento se tornava, pois a influência do evento na sobrevivência imediata das pessoas era menor.
Nossa herança, portanto, é uma programação genética que dificulta a tomada de decisões racionais quando se trata de como pensar em investimentos de longo prazo. Experiência, conhecimento e disciplina fazem com que algumas pessoas eventualmente consigam superar esse viés cognitivo, mas infelizmente elas são minoria. Quando um investidor efetivamente consegue pensar no longo prazo em vez de se preocupar com a obtenção de pequenas satisfações no curto prazo, normalmente vê movimentos de preços de ativos de forma diferente.
Quedas expressivas dos preços das ações podem ser vistas com entusiasmo pelo poupador líquido: nesses momentos podem surgir oportunidades, a preço de liquidação, de compra de ações de empresas sólidas, bem geridas, lucrativas, e com potencial de elevada rentabilidade ao longo do tempo em função de vantagens competitivas sustentáveis. Ou seja, podem se provar excelentes investimentos no longo prazo, no entanto, realizados em um momento em que a maioria dos investidores está paralisada por perdas recentes e têm como principal preocupação evitar mais perdas (ou dor) no curto prazo.
Efetivamente pensar em investimentos no longo prazo pode ser um desafio em termos de gerenciamento de expectativas e emoções ao longo do tempo, mas com resultados inegavelmente fantásticos para o investidor disciplinado
Um grande abraço!!

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