Saturday, December 11, 2010

Compras coletivas: tendência ou bolha?

Um mercado que não existia aqui no Brasil há 12 meses tem neste final de ano mais de 100 players que praticamente surgiram do nada. Quem nos últimos meses não caiu na tentação de comprar aquela oferta matadora de 80% de desconto em um restaurante badalado junto com dezenas de outras pessoas? Pois é, muita gente. Mas daí vem a pergunta que ninguém ainda respondeu: trata-se de uma tendência irreversível ou uma bolha?
Tendência
O mecanismo que está por trás de um site de compras coletivas é bem simples e quase genial. Explora um nicho chamado de social commerce ou comércio social, ou seja, envolve o engajamento das pessoas e seus contatos nas redes sociais.
Vende-se na maioria dos casos serviços a serem usados em um prazo de alguns meses. Ou seja, a demanda gigantesca é atendida a médio prazo, não tudo de uma vez. O negócio ganha caixa imediatamente e quando o cliente aparece geralmente consegue vender algo a mais.
Além disso, cada pessoa que compra algo tem interesse que outros também comprem por dois motivos principais: (1) ter alguém para acompanhá-la – ninguém gosta de ir sozinho a um restaurante da moda – e (2) para que haja um volume mínimo de compradores e a oferta seja válida. Por esses dois motivos todo comprador é um divulgador da oferta em potencial pois está na verdade correndo atrás de seus próprios interesses e que, por acaso, é o mesmo interesse da loja de compras coletivas e do fornecedor do produto ofertado.
Outro fator que pesa a favor do social commerce é que a decisão de compra de produtos e serviços é desde sempre social. Quando queremos comprar um produto qualquer, vamos dizer, um smartphone de última geração, geralmente perguntamos a amigos e conhecidos se acham que vale à pena. É algo que acontece desde que inventaram o capitalismo. Os sites de compras coletivas extrapolam esse fato ao mostrar que determinado serviço ou produto já foi adquirido por centenas de pessoas, um sinal de aprovação da multidão.
Nas redes sociais o fenômeno também é observado. Uma mensagem favorável ou desfavorável a um produto certamente influencia na decisão de compra de um seguidor do Twitter ou um amigo do Facebook. Uma pesquisa do Ibope Mídia mostrou que cerca de 25% dos internautas brasileirostem suas decisões de compra influenciadas pelas redes sociais. Os blogs de análise de produtos também fazem parte deste fenômeno interconectado. O que acontecia apenas entre conhecidos agora foi transportado para a grande rede.
Grandes grupos
Recentemente o Buscapé fez uma aquisição no mercado de compras coletivas. Ao enxergar o que poderia ser uma ameaça ao seu negócio de portal de comparação de preços, adquiriu o ZipMe, agregador de ofertas de compras coletivas que não tinha nem 3 meses de vida. Mudou o nome do ZipMe para SaveMe e já garantiu sua parte neste fenômeno em franca expansão.
A Privalia, grupo espanhol que mantém um serviço de clube de compras, lançou por aqui oGroupalia, versão brasileira do seu site de compras coletivas. O serviço recebeu recentemente um aporte de 12 milhões de dólares, o que mostra o interesse de grandes investidores neste mercado.
Groupon, startup americana que iniciou este novo mercado de compras coletivas, está nas manchetes dos blogs de tecnologia pois havia indícios de que seria comprado por cerca de US$ 6 bilhões pelo Google. Se os rumores estiverem certos um novo boom de lojas de compra coletiva deve ser esperado (*). Ou não.
(*) O Groupon recusou a oferta de compra pelo Google, após negociação.
Bolha
A grande preocupação que todos os mais de 100 sites de compras coletivas do Brasil devem ter neste momento é exatamente a mesma: com tantos concorrentes, será que vou sobreviver? Uma olhada rápida pelos sites mostra que boa parte das ofertas – todas na maioria das vezes – atingem o número mínimo de compradores e são efetivadas.
O mercado de compra coletivas é fácil de entrar, o que explica a quantidade de novos players surgidos nos últimos meses. Além disso, com a quantidade de sites concorrentes à procura de ofertas interessantes, pode-se chegar a um limite no qual os fornecedores de ofertas terão grande poder de barganha devido à possibilidade de escolha entre sites diferentes de compras coletivas. Essas são só duas das forças de Porter ameaçando a existência destes sites.
Sabe-se também que os primeiros entrantes em qualquer mercado costumam levar vantagem sobre os demais. Aqui no Brasil os sites que começaram a moda das compras coletivas foram o Peixe Urbano e o Clickon. Outro concorrente forte é o próprio Groupon, que entrou no mercado brasileiro pela aquisição do Clube Urbano.
Uma das formas de sobreviver neste mercado selvagem é mostrar algo de diferente dos demais. O SaveMe foi uma aposta certeira do pessoal que criou o Coletivar, outro site de compras coletivas. Conseguiram vender a ideia de um agregador em menos de 3 meses de operação. Outra forma de se diferenciar é com sites de compra coletiva de nichos. Um ótimo exemplo é o Bom Proveito que só faz ofertas de restaurantes.
Por fim, existe um grande problema que pode surgir com a proliferação de dezenas de sites de compras coletivas. Como garantir a qualidade do que foi vendido? O e-commerce é responsável apenas pela venda, mas não consegue garantir que, na outra ponta, o restaurante ou SPA oferecendo o serviço, vá cumpri-lo com qualidade.
A minha percepção é que a compra coletiva é uma tendência que veio pra ficar. Mas sobrarão poucos players no mercado a longo prazo. Quem se diferenciar sobreviverá.
Fonte: techtudo

No comments:

Post a Comment