Wednesday, December 1, 2010

Os novos milionários da internet

Eles exploram a internet da nova década: superpovoada, móvel e em banda larga. Já ganharam milhões de reais – ou estão a caminho.O que temos a aprender com eles
BRUNO FERRARI E CARLOS GIFFONI
Revista Época
Surge no Brasil uma nova geração de empreendedores da internet. Os mais bem-sucedidos deles já estão faturando alguns milhões de reais. São jovens, nascidos nos anos 80, mas formam uma “geração” por outros motivos mais importantes. Como seus antecessores, eles largaram a segurança de empregos promissores e arriscaram suas economias num negócio próprio. Mas os sonhos são diferentes. Essa turma não pretende revolucionar o jeito que usamos a internet, nem criar novos Googles ou Facebooks, nem abrir o capital na Bolsa (ao menos por enquanto). Eles enfrentam outro tipo de desafio: conseguir chamar a atenção das empresas e dos internautas no novo universo digital brasileiro – quase 52 milhões de usuários de internet, 18 milhões acessando a rede por meio de dispositivos móveis como celulares e 13 milhões deles com banda larga fixa. Os novos empreendedores têm sorte. A infraestrutura necessária para colocar um site no ar tornou-se mais barata e fácil de contratar. Por isso, ficou mais simples pôr em prática uma boa ideia – mas a concorrência aumentou. Para inspirar jovens talentosos, ÉPOCA selecionou oito empresas brasileiras comandadas por jovens, cuja trajetória é promissora.
O que caracteriza empreitadas vencedoras como essas? A consultoria americana Ernst & Young tentou responder recentemente a essa pergunta com um estudo chamado Connecting innovation to profit (Conectando lucro com inovação), realizado com um grupo de novos empreendedores nos Estados Unidos. Segundo o estudo, pelo menos 50% do faturamento das empresas novatas deve vir de fontes que ainda não existem, ou seja, de novas necessidades do mercado ou novas maneiras de explorar necessidades velhas. A pesquisa constatou também que há muito a garimpar em mercados ultraespecializados. “É mais fácil para uma empresa prosperar se ela se dedicar a um determinado nicho”, afirma Paulo Sergio Dortas, sócio da Ernst & Young. Histórias assim podem ser encontradas nas páginas seguintes, como a do site Flight Market, especializado em aviação, e da byMK, que encontrou um jeito original de entreter e lucrar com um setor tradicional, o de moda.
Das novas empresas selecionadas pela consultoria, 82% tinham como parte fundamental da estratégia o desenvolvimento de novas tecnologias e modelos de negócio. O tema deveria entrar na agenda de todo empresário que queira prosperar no longo prazo, seja qual for o porte de seu negócio. Essa preocupação, mais evidente nos empreendedores tecnológicos, foi tema de uma reportagem publicada na revista britânica The Economist. O artigo “O modelo brasileiro” afirma que o país precisa ser mais inovador para cumprir sua promessa de se tornar o “país do futuro”. E apresenta um cenário preocupante: investimos apenas 1,1% de nosso Produto Interno Bruto em pesquisa e desenvolvimento, ante o 1,4% da China e os 3,4% do Japão. Esse é um dos motivos que levaram o Brasil a despencar no ranking mundial de países inovadores, passando da 50ª para a 68ª posição. Mais que isso. O Brasil tem uma burocracia atroz para as empresas (uma hipotética empresa média gastaria 2.600 horas de trabalho só para lidar com as exigências do governo, um dos piores cenários do mundo) e impostos, muitos impostos.
Pelo menos 50% do faturamento das empresas novas deve vir de fontes 
que ainda não existem hoje, segundo a consultoria Ernst & Young
É um contrassenso. Qualquer economia necessita de empreendedores. Por definição, são eles que criam oportunidades. A situação no Brasil melhorou: no ano passado foram abertas 699 mil empresas, 6% a mais que em 2008, e o número de falências caiu. Mas ainda é pouco ante as necessidades do país. E não se sabe quantas delas são empresas que realmente têm plano de negócios. Segundo um estudo recente da consultoria americana Kauffman Foundation, empresas com idade entre um e cinco anos são responsáveis hoje por 64% das contratações nos EUA. Um exemplo local é o Peixe Urbano, site de compras coletivas que contratou 250 funcionários em apenas sete meses de existência.
O Peixe Urbano é o site mais conhecido do país no segmento de clube de compras, uma das maiores febres da internet brasileira. A expansão desse segmento virtual é comparável à explosão das pet shops como pequeno negócio promissor, no início da década. A compra coletiva funciona assim: um site como o Peixe Urbano sela acordos com locadoras de vídeo virtuais, restaurantes, bares e outros estabelecimentos e vende tíquetes por um preço muito abaixo do cobrado originalmente. A lógica é comprar muitas cotas, como se centenas ou milhares de clientes entrassem na loja ao mesmo tempo para comprar o mesmo item. O volume de vendas permite que o Peixe Urbano lucre, mesmo com o desconto para o freguês. O estabelecimento parceiro, além de conquistar novos consumidores, garante o movimento mesmo em dias ou épocas de procura menor (algumas ofertas estão limitadas a determinado dia e horário). Os 18 principais sites de compra coletiva no Brasil reuniram 7,4 milhões de internautas em outubro, segundo o Ibope Nielsen Online. É um crescimento de 33% em relação aos 5,6 milhões de usuários de setembro e de 155% desde julho, quando houve 2,9 milhões de acessos. Hoje, quase 20% dos internautas (40,6 milhões de ativos) visitam algum site de compra coletiva.
Essa febre representa um nicho num setor com ótimos resultados no Brasil – o de comércio eletrônico. O mercado atraiu uma série de grupos de investidores estrangeiros. “O crescimento médio das empresas brasileiras nesse mercado é superior a 25% ao ano, enquanto na Europa fica entre 5% e 10% e nos Estados Unidos entre 8% e 12%”, afirma o executivo Kai Schoppen, que passou por diversas empresas de investimento e hoje chefia as operações do BrandsClub, outro site de compras coletivas.
“Desde pequeno eu era encantado por aeronaves. 
Agora consegui transformar minha paixão em negócio” 
Guilherme Souza, dono do Flight Market
Em outro estudo, a consultoria Kauffman Foundation mostra que, embora a atuação das empresas de investimento varie conforme o humor da economia, o número de empresas criadas se mantém. Isso significa que os empreendedores aproveitam os investidores profissionais quando eles estão disponíveis, mas se viram sem eles quando é necessário. É o caso da brasileira Olho no Click. Apesar do planejamento de quase dois anos, os sócios não conseguiram encontrar investidores dispostos a financiar a empresa na época mais aguda da crise. O jeito foi reunir o capital inicial – cerca de R$ 500 mil – entre os sócios.
Um pequeno empreendimento pode se dar muito bem sem investidores profissionais – mas conquistá-los é um bom indicador do potencial da empreitada. É o caso da Samba Tech, que desenvolve tecnologia para distribuição de vídeo, e da boo-box, que desenvolve anúncios para redes sociais. Marco Gomes, um dos sócios, diz ter tido a ideia durante a madrugada, quando lia notícias de fofoca na internet e viu uma foto da Gisele Bündchen em Nova York. “Ela falava num celular Gradiente, segurava um Blackberry, carregava uma bolsa Louis Vuitton, vestia uma calça Gucci e calçava um All Star.” Nenhuma dessas marcas tinha um anúncio no site. Gomes achou que havia uma oportunidade. Reuniu dez amigos e, em 2006, colocou um protótipo da boo-box no ar. O aplicativo permitia que o internauta clicasse sobre produtos em fotos para abrir anúncios e comprá-los. A ideia de Gomes foi difundida pelo site de tecnologia americano TechCrunch, e logo vieram os investidores. O Monashees Capital aplicou US$ 300 mil e a Intel Capital anunciou na semana passada que também investirá. A boo-box tem hoje clientes como Itaú, Audi e Nike.
A nova geração ainda está longe de repetir a trajetória do maior caso de sucesso da internet brasileira da década que termina, o Buscapé. Criado por Romero Rodrigues no fim de 1999, na época um estudante universitário, o site de comparação de preços foi arrematado pelo grupo sul-africano Naspers, no fim do ano passado, por US$ 342 milhões. As novas empresas, porém, têm uma vantagem que os pioneiros digitais não tinham: casos de sucesso em que se inspirar e com cujos erros podem aprender. Os novos negócios na internet são um ótimo exemplo para mais gente empreender, inovar, criar empregos, fazer o país avançar. E ficar rica.


O site da moda

Marcella e Karen gostavam de moda. Tanto que conseguiram reunir numa rede 200 mil pessoas com o mesmo interesse e passaram a ganhar dinheiro com isso
BRUNO FERRARI E CARLOS GIFFONI
Quando a administradora Marcella Kauffman pensou em largar o emprego e criar uma empresa, em 2008, sua primeira ideia, como apaixonada por moda, foi abrir uma loja de roupas. Mas isso seria o óbvio. E o óbvio geralmente ocorre a muita gente – o que significa muita concorrência. Em conversas com o marido, Flávio Pripas, profissional de tecnologia, Marcella decidiu tentar algo um pouco diferente: uma rede social de moda.
Para entrar nesse ramo, associou-se à amiga Karen Steinberg, consultora de imagem. Ambas se inspiraram em sites americanos para criar o byMK. O site permite que as pessoas discutam moda e montem visuais virtualmente, com base em roupas, calçados e acessórios de diversas marcas (mesmo que elas não estejam no catálogo). Elas têm hoje 200 mil perfis cadastrados. “Pesquisei e vi que no Brasil não tinha nada na internet relacionado à moda que fosse feito pelo próprio usuário”, diz Marcella. “No byMK, você cria virtualmente o visual que quiser, com mais de 1 milhão de produtos disponíveis no site.”
Marcella, hoje com 30 anos, está feliz por ter decidido largar o emprego na área de marketing de uma companhia farmacêutica. Além de Pripas, também entrou como sócio Renato Steinberg, marido de Karen. Ele contribuiu com o desenvolvimento tecnológico do site. Hoje, os quatro se dedicam exclusivamente ao byMK. O investimento inicial foi praticamente zero. Os quatro sócios gastaram apenas com a hospedagem do site. Em abril de 2009, o byMK virou empresa e um mês depois era um negócio rentável. Os sócios esperam fechar 2010 com um faturamento da ordem de R$ 1 milhão.
Atualmente, os usuários podem brincar de estilistas e criar quantos looks quiserem, sem pagar nada. Os anunciantes, atualmente cerca de 30, exibem seus produtos e promovem eventos. Há campeonatos virtuais em que as marcas premiam os usuários que montam os melhores visuais. “Estamos criando um aplicativo para o Facebook e vamos adaptar o byMK para novos dispositivos, como o iPad”, diz Marcella. O passo seguinte será mais ambicioso: permitir que os usuários comprem peças de roupa e acessórios pelo próprio site.
Foto: Marco Lopes/ÉPOCA, Tratamento de imagem: Caio Vasques, Produção: Andréa Sabino
MODA VIRTUAL
Marcella e Karen, sócias na rede social de moda byMK. Elas ajudam os usuários a montar visuais virtualmente
Descontos para todos


As compras coletivas com descontos se tornaram uma febre no Brasil. Entre centenas de sites
BRUNO FERRARI E CARLOS GIFFONI

Daryan Dornelles/ÉPOCA
ACELERADO 
Julio Vasconcellos, criador do Peixe Urbano. Em apenas um negócio, para uma rede de academias, ele faturou R$ 1 milhão
Até o início de novembro, o administrador Julio Vasconcellos dedicava a maior parte de seu tempo a representar no Brasil o Facebook, maior rede social do mundo. Agora, ele decidiu deixar isso de lado e se dedicar integralmente a um negócio com o curioso nome de Peixe Urbano, que criou em abril. O site é um serviço de compras coletivas com descontos que chegam a 90%. Funciona assim: o Peixe Urbano faz acordos com restaurantes, bares e lojas de vários tipos e vende, com lucro, cupons virtuais, por preços muito menores que os cobrados no estabelecimento. O consumidor ganha o desconto, e a loja faz vendas mesmo em dias e épocas de baixo movimento (várias ofertas têm limites de dia e horário).
Vasconcellos, natural de Brasília, estudava na Universidade Stanford, na Califórnia, até o início deste ano. Nos Estados Unidos, trabalhou em diversas empresas de internet e viu crescer a febre das compras coletivas. Aproveitou as férias no Rio de Janeiro para explicar a ideia a possíveis parceiros comerciais. “No início, de 100 lugares que eu visitava, 99 falavam que eu estava louco”, afirma. Mas bastaram alguns poucos casos de sucesso para catapultar o crescimento do Peixe Urbano: em sete meses, a empresa se expandiu para 25 cidades brasileiras e chegou a 250 funcionários. “Estamos com 40 vagas abertas, de vendas a programação”, diz o empreendedor.
Ele não revela dados financeiros, mas conta como o negócio o surpreendeu: a expectativa inicial para 2010 era conseguir 300 mil usuários. Há dois meses, atingiu a marca de 1 milhão. Em um único negócio, faturou R$ 1 milhão. “Em um dia, vendemos 20 mil cupons por R$ 50 para a academia Curves, que atende somente mulheres.”
As compras coletivas se tornaram uma febre também no Brasil, e o Peixe Urbano assumiu a liderança do segmento. O sucesso da empresa inspirou sátiras, como o site “Pobre Urbano” e piadinhas de Twitter como a promoção do “Peixe Umbanda”, com anúncios absurdos. Vasconcellos dá risada e diz querer no Peixe Urbano um ambiente descontraído. “Fazemos happy hours bancadas pela empresa para avaliar o trabalho e discutir novas ideias.” A inspiração vem do Google, outra empresa descontraída – e que se tornou a maior companhia de internet do mundo.

Na ponta dos dedos

A Fingertips foi a primeira empresa do Brasil a fazer aplicativos para o celular-computador iPhone. Começou com joguinhos e hoje atende grandes companhias
BRUNO FERRARI E CARLOS GIFFONI
Filipe Redondo / ÉPOCA
ATRÁS DA APPLE Breno Masi, um dos criadores da Fingertips. Ele começou desbloqueando iPhones
“Eu era do ‘lado escuro da força’.” É como Breno Masi, sócio da Fingertips, define o que fazia antes de ter aberto a empresa, em 2008. Naquele ano, Steve Jobs, presidente da Apple, apresentava a loja virtual de aplicativos para o celular-computador iPhone. Até então, Masi ganhava dinheiro desbloqueando irregularmente iPhones para uso no Brasil, a R$ 599 por aparelho. Ele tem currículo nesse submundo: foi o primeiro brasileiro a desbloquear o iPhone 3G e o primeiro no mundo a desbloquear o iPhone 3GS. Quando o celular chegou oficialmente ao Brasil, a clientela encolheu. Masi então se uniu a dois sócios para iniciar a Fingertips, primeira desenvolvedora brasileira de aplicativos para o iPhone.
No início, o trio criou programas para entretenimento, que funcionaram como cartão de visita da empresa na App Store, a loja de aplicativos da Apple. O conhecimento técnico logo atraiu clientes grandes. A empresa ganhou fama ao desenvolver um programa para uma seguradora. “Depois da chamada pelo iPhone, o motorista segurado podia acompanhar onde estava o guincho e saber quanto tempo levaria para ser atendido”, diz Masi. A Fingertips também fatura com aplicativos gratuitos e mantidos por patrocinadores.
Masi tem 27 anos e diz não se importar com questões de idade. Um terço dos funcionários da empresa é mais velho que ele, e há um jovem de 16 anos na equipe de programação. “Ele me pediu emprego pelo Twitter”, diz. O próximo desafio da Fingertips é adequar a tecnologia para novos aparelhos de sucesso, como celulares com o sistema Android, o iPad e computadores sem teclado em geral. O faturamento do primeiro ano, 2008, foi de R$ 1 milhão. A empresa cria, por ano, uma média de 40 aplicativos para companhias e estima fechar 2010 com R$ 4,5 milhões de receita.

O lance vencedor

A partir de uma viagem, um papo de bar e um trabalho de pós-graduação, quatro sócios criaram um site de leilões inovador, que leiloa até o direito de dar lances
BRUNO FERRARI E CARLOS GIFFONI
Dois anos atrás, o administrador Guilherme Pizzini, de 27 anos, reuniu-se com amigos num bar na cidade de Campinas, São Paulo, para discutir um projeto de negócio próprio. Um dos participantes do papo de boteco, Sylvio Avilla, havia morado na Alemanha e ficado impressionado com o sucesso de sites de leilão com tempo cronometrado para os lances. Pizzini gostou. Fez uma pós-graduação rápida em negócios e apresentou como trabalho de conclusão de curso o projeto que daria origem ao site Olho no Click. Pizzini e Avilla chamaram para a empreitada mais dois sócios, Rodrigo Ferreira (profissional de tecnologia da informação) e Arthur Davilla (como sócio investidor). Juntos, investiram R$ 500 mil na empresa.
O Olho no Click fatura, principalmente, com a venda de pacotes de lances – o interessado paga uma pequena taxa fixa para ter o direito de fazer certo número de lances (os próprios pacotes de lances podem ser leiloados). Para os clientes, significa gastar um pouco para ter a oportunidade de economizar muito ao fazer um lance vencedor. Para a empresa, significa ter uma fonte estável de receita, mesmo que haja menos produtos a leiloar.
Os sócios fizeram parcerias com grandes fornecedores para resolver questões de estoque e entregas e também para poder oferecer novidades. Eles ofereciam o iPad (tablet da Apple) e o Kinect (acessório para o videogame XBox 360, da Microsoft) antes de os produtos chegarem ao Brasil. Logo perceberam que valia a pena perder dinheiro em alguns leilões que arrecadam pouco com o lance vencedor, mas atraem novos usuários. “Já vendemos uma viagem à África do Sul por R$ 15”, diz Pizzini. A empresa faturou R$ 2 milhões no ano passado e prevê fechar 2010 com R$ 5 milhões. O site recebe 100 mil visitas por dia e vende 300 produtos por mês, mas quer crescer muito ainda. “Entramos no azul muito rápido, mas ainda reinvestimos na empresa todo o lucro”, diz Pizzini.
Rogério Cassimiro/Época
VISÃO 
Guilherme Pizzini, um dos fundadores do Olho no Click. Ele conseguiu lucrar mesmo vendendo uma moto por R$ 13 e uma viagem à África do Sul por R$ 15
Twitters sob medida


Rafael Kiso começou a ganhar dinheiro com a internet ainda adolescente. Aos 27 anos, é dono de uma empresa que vai faturar R$ 6 milhões neste ano
BRUNO FERRARI E CARLOS GIFFONI
Filipe Redondo / ÉPOCA
INTRANET ANIMADA 
Rafael Kiso tinha 18 anos quando criou a Focusnetworks. A empresa faz intranets corporativas com redes sociais
O primeiro contato de Rafael Kiso com a internet foi em 1995, quando, aos 12 anos, aprendia programação na Universidade do Vale do Paraíba, em São José dos Campos. Entre os projetos desenvolvidos estava a intranet da universidade. Nos anos seguintes, esse aprendizado virou oportunidade de negócio. O sócio foi o irmão mais velho, William, e o quarto funcionou como o primeiro escritório. “Ali, comecei a desenvolver sites para clientes pequenos”, diz. Esse período como prestador de serviços incluiu trabalhos para o Banco Itaú, até que Kiso, aos 18 anos, percebeu a crescente demanda de grandes companhias por ferramentas de internet. Por isso, ele e o irmão mais velho investiram R$ 10 mil para criar, em 2001, a Focusnetworks.
O conhecimento de tecnologia foi um trunfo de Kiso e de sua empresa por vários anos. Em 2007, porém, ele percebeu uma mudança no mercado. Blogs, redes sociais e vídeos fizeram com que as empresas, os funcionários e os clientes quisessem novas experiências ao lidar com a internet. Para entender melhor a transformação, Kiso se matriculou numa faculdade de marketing. “Eu queria fazer ações de publicidade na internet com algum diferencial”, diz. Ao combinar conhecimento tecnológico e melhor compreensão de marketing, Kiso se sentiu pronto para propor às empresas “intranets animadas”, que incluíssem ferramentas como redes sociais. “O conceito de intranet que vendemos permite interação entre os funcionários. Tem até microblog, como se fosse um Twitter interno”, afirma.
A crescente intimidade da Focusnetworks com as redes sociais abriu uma nova frente de negócios. A empresa passou a ajudar os clientes a exibir uma imagem mais moderna e atraente no Facebook, no Orkut e em outras redes. “Nosso objetivo é transformar esses negócios cada vez mais em negócios on-line. As empresas precisam atuar nas redes, e nós fazemos essa integração”, diz. O negócio está dando certo – a perspectiva de crescimento para 2011 é de 12%. Hoje, o faturamento da empresa, que tem 54 funcionários, é de R$ 6 milhões.


Dinheiro no ar

O crescimento econômico abre nichos promissores, como o de aeronaves usadas. O engenheiro Guilherme Souza, de 26 anos, voou atrás da oportunidade
BRUNO FERRARI E CARLOS GIFFONI
Rogério Cassimiro/Época
O ESPECIALISTA 
Guilherme Souza, dono do Flight Market. Ele apostou no segmento de aviação, que o encanta desde criança
O interesse por aviões do paulista Guilherme Souza, de 26 anos, começou cedinho. Seu avô e sua avó pilotavam aeronaves e chegaram a ter uma pequena empresa de táxi-aéreo nos anos 80. O interesse virou paixão, que virou seu primeiro negócio, o Flight Market. O site oferece uma série de serviços para usuários de aviões e helicópteros. Lá, o internauta pode comprar, vender ou alugar aeronaves, encontrar peças, comparar seguros, escolher pilotos num banco de currículos e ler as principais notícias do setor de aviação. “A ideia era um site de classificados, como o Webmotors, mas para aeronaves”, afirma. “O Brasil é o segundo maior mercado do mundo, atrás dos Estados Unidos.”
O investimento inicial, feito no fim de 2009, foi de R$ 100 mil. A empresa tem seis funcionários: dois programadores, um vendedor, um contador e um encarregado do jurídico. Ainda deverá contratar um responsável por notícias. Souza diz que optou por criar um serviço de classificados para não concorrer com lojas de aeronaves já estabelecidas. “É um mercado extremamente especializado. Por isso, é melhor ser parceiro dessas lojas”, afirma. Em um ano, o Flight Market atuou na venda de mais de 450 aeronaves. Havia outras 120 disponíveis no site em meados de novembro.
A maior parte dos ganhos de Souza, que prevê uma receita de R$ 1 milhão em 2011, vem de banners publicitários no site. Os classificados são oferecidos em três modalidades: anúncios de 30 dias, 60 dias ou até vender. O último custa R$ 289, um preço bem modesto para os donos de aeronaves. Souza negocia com empresas financeiras a fim de dar o próximo passo: facilitar o financiamento das aeronaves. No plano pessoal, a expectativa para 2011 também é grande: ele vai tirar o brevê, a licença para poder pilotar aviões, e poderá realizar o sonho de infância, de quando ouvia as histórias de seus avós.

O YouTube das empresas

As duas primeiras tentativas de negócios de Gustavo Caetano não deram certo. Na terceira, um serviço de distribuição de vídeo pela web, ganhou clientes e vários milhões
BRUNO FERRARI E CARLOS GIFFONI
Rogério Cassimiro/Época
BELA IMAGEM 
Gustavo Caetano criou a Samba Tech pensando em jogos de celular. Mas chegou ao lucro oferecendo tecnologia de vídeo
O empreendedor Gustavo Caetano, de 29 anos, experimentou três modelos de negócio diferentes até que sua empresa, a Samba Tech, finalmente deslanchasse. Em 2004, quando era estudante de marketing, comprou um celular moderno e ficou frustrado ao encontrar nele poucos jogos. Resolveu apostar nesse mercado, com a ajuda de um investidor, apresentado por seu pai. O negócio cresceu – e a pressão das operadoras de telefonia também. “Vendíamos para poucas operadoras e estávamos submetidos ao poder de barganha delas”, diz Caetano. Por isso, ele e os dois sócios partiram, em 2007, para outra frente de trabalho. “Contratamos pessoal para criar um sistema de distribuição de arquivos pela internet”, diz. A ideia era permitir que os usuários baixassem jogos de computador legalmente pela web. “Só não contávamos com o poder da pirataria e a falta de banda larga”, afirma. A Samba Tech sofreu um prejuízo de R$ 800 mil. Mesmo após dois reveses, os sócios não desistiram. Conseguiram enxergar um novo segmento em que poderiam usar o conhecimento já acumulado na empresa.
Caetano percebeu que grandes empresas precisavam de tecnologia para transmitir arquivos de vídeo pela internet e também para deixá-los à disposição dos funcionários em intranets. “Decidi adaptar a tecnologia para ela permitir a distribuição de vídeos em vez de jogos”, diz. Hoje, entre os clientes da Samba Tech estão a empresa de telefonia Oi, a fabricante de cosméticos O Boticário e as emissoras de TV Bandeirantes, Globo e Record. Em 2008, a Samba Tech recebeu R$ 5 milhões da empresa de investimentos FIR Capital.
Agora, Caetano quer buscar clientes com sede no exterior. O objetivo é atrair empresas que queiram usar a tecnologia para comunicação com franquias e filiais por meio de um “YouTube empresarial”. Se os planos correrem como o empresário espera, a Samba Tech chegará ao fim de 2011 com faturamento equivalente ao triplo dos atuais R$ 10 milhões por ano.

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