Friday, February 11, 2011

A aliança com a Microsoft salvará a Nokia da sua “plataforma em chamas”?

Sua empresa tem uma posição privilegiada no mercado móvel: nenhuma outra vende mais aparelhos globalmente e seu sistema operacional móvel é o mais popular do mundo. Ainda assim, erros estratégicos levam os rivais e ganharem mercado e, em uma estratégia que resvala no desespero, você abre mão do sistema operacional em nome da tecnologia de terceiros. Sua empresa é a Nokia.
A situação da finlandesa já não estava das melhores aos olhos do mercado com a crescente participação do Android no mercado de sistemas operacionais móveis: dados do Gartner mostram que, no final de 2009, aparelhos com Android representavam 3,9% de todos os celulares vendidos no mundo. Um ano depois, já eram 22,7%. Líder, o Symbian da Nokia viu sua participação cair de 46,9% para 37,6% no mesmo período e é consenso entre analistas que trata-se de uma simples questão de tempo até que o Android lhe tome a coroa. Já há quem diga que a liderança mudou de mãos nos últimos meses de 2010, como a Canalys.
No começo da semana, o vazamento de um memorando enviado pelo CEOStephen Elop, aos funcionários da Nokia chamou ainda mais atenção para a empresa, a começar pela firmeza das palavras do executivo: no cargo há quatro meses, Elop comparou a situação da Nokia com a de uma plataforma de petróleo pegando fogo. “O primeiro iPhone foi lançado em 2007 e ainda não temos um produto que se aproxime da experiência deles. O Android chegou ao mercado há apenas 2 anos e nesta semana eles tomaram nossa posição de liderança em vendas de smartphones. Inacreditável (…) Como chegamos a este ponto? Por que nós caímos enquanto o mundo ao nosso redor evoluiu?”, se pergunta Elop em uma discurso longe do corporativismo que estamos tradicionalmente acostumados a atrelar a CEOs.
Qualquer um que acompanhe o mercado de tecnologia há de concordar inteiramente com Elop. “Inacreditável” é um termo que cabe bem à Nokia nos últimos anos. A liderança entre sistemas móveis é temporária e a grande participação na base de celulares não significa, necessariamente, ganhos para fabricante, como mostra o gráfico compilado pela The Economist.
Ainda que o iPhone esteja longe da participação da Nokia em volume de aparelhos, a Apple já abocanha metade dos lucros do mercado. No final das contas, acionistas querem ganhos. A função primordial de uma empresa é lucrar. De que adianta milhões e milhões de aparelhos em mãos espalhadas por diferentes continentes quando sua margem de lucro vem sendo espremida? Pior: em um cenário como esse, sua empresa não toma nenhuma atitude capaz de estancar o sangramento. De novo, sua empresa é a Nokia.
Imaginar que, no espaço de um ano, o líder com folgas no mercado de sistemas operacionais móveis perderia o posto de prioridade dentro da empresa para um sistema ainda nascente é inacreditável. Elop anunciou hoje durante o Nokia Strategy and Financial Briefing uma ampla parceria com a Microsoft para tornar o Windows Phone 7, chegado às prateleiras em outubro, o sistema operacional prioritário dos celulares da Nokia.
O que acontecerão com o tradicional Symbian e o MeeGo, sistema de código aberto criado junto à Intel? Serão mantidos, mas com papéis ainda obscuros: o Symbian será uma “plataforma franquia” e o MeeGo terá pela frente uma “exploração do mercado em longo prazo”. Tire a camada de corporativismo do release oficial da Nokia e a impressão que fica é que ambos foram deixados de lado. A partir do momento em que a responsável por investir em inovações no sistema móvel dos aparelhos da Nokia é a Microsoft, Symbian e MeeGo deixam também de receber atenção dentro da fabricante. Por consequência, perde-se o apelo entre desenvolvedores. A impressão que fica é do fim.
Por outro lado, a aliança é uma simbiose entre ambas. A estratégia da Nokia de tentar responder aos avanços de Apple e Google entre smartphones claramente falhou. Foram muitas as tentativas de aparelhos que rivalizassem com o iPhone: 5800 Xpress MusicN96 ou N8 (abaixo) não chegaram perto de ameaçar o avanço do smartphone da Apple. Pior: a Nokia teve que dividir as atenções do mercado com o Nexus One, celular do Google produzido pela HTC. Em médio prazo, há dúvidas sérias sobre a capacidade da Nokia de manter sua participação e, principalmente, seu poder de inovação no mercado. Já a Microsoft deu um reboot completo na sua estratégia móvel com o lançamento do Windows Phone 7, após investir, cancelar e jogar milhões de dólares pelo ralo em outros projetos, como o Kin ou otablet Courier.
Em resumo: Nokia e Microsoft são duas gigantes de tecnologia com estratégias confusas nos últimos anos que culminaram em difíceis situações, cada uma em seu setor. A união das duas é uma simbiose: a Nokia ganha poder no mercado norte-americano e “terceiriza” o desenvolvimento de um sistema móvel (vale o preço de tirar o Symbian da linha de frente? Ainda não está claro), enquanto a Microsoft terá volume de aparelhos para popularizar o Windows Phone 7, depois de um lançamento chamativo, mas que não vem indo tão bem nas vendas.
Nas primeiras horas, a reação do mercado é muito ruim: as ações da Nokiavêm caindo mais de 13%.
A Nokia está acostumada a mudanças radicais – basta lembrar que a companhia nasceu, em 1871, atuando na produção de papel e na geração de energia elétrica. Sob a batuta do ex-Microsoft Elop, a empresa toma a radical decisão de abrir mão do líder Symbian e apostar em aliança com a Microsoft para bater de frente com Apple e Google (com quem a Nokia conversou, aliás). Os dois rivais vão muito bem, obrigado. Não é possível ignorar o poder de uma parceria entre a maior fabricante de celulares e a maior desenvolvedora de softwares do mundo. É uma aposta arriscada. Na situação e no contexto em que ambas se encontram (já se vendem mais celulares que PCs no mundo), Nokia e Microsoft têm sua bala de prata.

Fonte:Tecneira

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