Tuesday, January 18, 2011

"Nerd é um empreendedor nato", afirma especialista

CAMILA FUSCO
DE SÃO PAULO



Na semana em que a Campus Party coloca em evidência o potencial de inovação dos apaixonados por tecnologia, discute-se também o potencial de converter essa criatividade em negócios.
Para Silvio Meira, chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar) e colunista da Folha, os aficionados em programação, computação e internet --conhecidos como "nerds"-- já têm a característica nata de empreendedorismo de conhecimento. O desafio é conseguir estimulá-los para transformar seu conhecimento em empresas.
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Folha - Na esteira de negócios importantes como Facebook e Twitter, que nasceram de aficionados por tecnologia, como definir o termo nerd?
Silvio Meira - O nerd é quem tem conhecimento acima da média numa área. É o que era antigamente o filósofo. O nerd de hoje é um filósofo prático, que implementa coisas em tecnologia.
Qual o potencial empreendedor de um nerd?
Nerds são empreendedores natos, mas de conhecimento. Ele usa seu tempo para aprender coisas importantes. Mas ser nerd não é sinônimo de desenvolver empresas de sucesso.
Como transformar essa capacidade em negócios?
É necessário que alguém ajude a pensar em como você estrutura um produto.
O que nomes de internet como Mark Zuckerberg, do Facebook, e Biz Stone, do Twitter, têm a ensinar à nova safra de empreendedores de tecnologia?
Acho que Biz Stone é o melhor exemplo de que o empreendedor de verdade é serial. Um empreendimento é um produto como outro qualquer. A empresa do empreendedor é um produto. Ele não é dono, é sócio. O empreendedor é capaz de desistir porque não valeu a pena. Você pode ser um empreendedor apaixonado, mas a palavra "empreendedor" tem que vir antes.
Eventos que reúnem muitos especialistas num assunto, como a Campus Party, podem ajudar?
Não sei se a Campus Party já faz esse papel de feira de negócios. O que precisamos ir atrás, de forma mais intensa, é de ambientes não só de trocas de experiências técnicas, mas ambientes que permitam o desenvolvimento de oportunidades duradouras.
As incubadoras podem fazer esse papel?
Sim. Hoje no Porto Digital, por exemplo, temos 150 empresas, dois institutos de inovação, quatro fundos de investimento. São pessoas pensando em tecnologia e negócios o tempo todo.
É missão das incubadoras incentivar como esses empreendedores devem pensar nas empresas?
As incubadoras têm que mudar radicalmente. Há diferença de incubar tecnologias versus incubar negócios. Por que sai tanta gente interessante de Stanford e Harvard? Porque concentram pessoas que têm disposição para aprender.
Muitos acreditam que o próximo Google sairá do Brasil. O sr. acredita nisso?
O que seria o próximo Google? Seria uma empresa com capitalização de mercado na ordem de US$ 100 bilhões. Para construirmos uma empresa com esse perfil a partir do Brasil, seria necessário que a cadeia de valor de dinheiro inteligente conectado -investidores que conhecem o negócio- fosse muito mais densa, com mais investidores. Por enquanto não temos uma cadeia densa de investimentos. Se vamos ter, eu ainda não sei. Precisamos esperar para ver.

Fonte: FSP

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